Um vasilhame cerâmico, que provavelmente é uma urna de sepultura tupi-guarani pré-colonial, foi descoberto durante escavações na Avenida Sete de Setembro, em Salvador. O material, de forma oval, com 80 cm de comprimento e 60 de largura, foi encontrado próximo ao Relógio de São Pedro pela equipe de arqueologia da obra de requalificação da via e da Praça Castro Alves.
Trata-se de uma tampa e um vasilhame com um corpo sepultado. Há indícios de que o corpo seja de um homem, provavelmente um índio tupi-guarani, que pode ter vivido em Salvador entre os séculos XIV e XVI. O total resgate do material da avenida está em andamento. Em agosto de 2019, restos de uma tupi-guarani já haviam sido encontrados pela equipe de arqueologia.
“O vasilhame tem decoração na parte interna, um indicativo de que foi confeccionado para um ritual de enterramento. O corpo dentro da urna também nos evidencia isso. O material que forma a cerâmica e a pintura nos trazem sinais de que é uma urna tupi-guarani. Para mim, não há dúvidas. A arqueologia ainda não tinha encontrado um vestígio material da existência desses índios. É a primeira urna pré-colonial a ser encontrada em Salvador e pode auxiliar a contar a história da presença desses indígenas aqui”, afirmou o arqueólogo coordenador da obra, Claudio Cesar de Souza e Silva.
O secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pablo Barrozo, destacou a importância do trabalho arqueológico que foi feito na Avenida Sete para a história da cidade. “Ao longo das escavações, pudemos desvendar parte da nossa história. Tudo isso foi feito com muito cuidado e respeito ao passado, com um grande estudo aprovado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e com uma equipe qualificada”, disse.
Artefatos históricos – Mais de 12 mil artefatos históricos foram retirados da Avenida Sete e da Praça Castro Alves durante o trabalho de arqueologia. Além das estruturas fixas, como o achado da Praça Castro Alves (restos de uma fonte e do Teatro São João), foram encontrados ossos humanos, moedas, cachimbos, uma bala de canhão, garrafas de vidro, além de contas de colares e faianças (cerâmicas) portuguesas do século XVI.
As estruturas da Igreja de São Pedro e uma fonte de água foram outros itens encontrados durante as escavações na altura do Relógio de São Pedro. Uma imagem de Nossa Senhora do Rosário ou da Saúde também foi achada na via.
O trabalho de arqueologia teve três etapas (prospecção, resgate e monitoramento) e foi autorizada previamente pelo Iphan, que acompanha todos os achados e autoriza o resgate do material do solo. O terceiro trecho (entre o Relógio de São Pedro e o Sulacap) está agora passando por resgate, quando materiais são recolhidos do solo. Após o fim das obras, todos os materiais serão transportados e disponibilizados para estudo no Centro de Antropologia e Arqueologia de Paulo Afonso.