Uma das joias da cultura brasileira, por suas qualidades intrínsecas de beleza, perfeição técnica, humor e poesia, e pelo papel importante que vem desempenhando nas próprias definições da identidade nacional, o Samba de Roda do Recôncavo baiano passa a ser Patrimônio Cultural Imaterial do Estado depois que o governador Rui Costa decretou o reconhecimento da manifestação musical no Livro de Registro Especial das Expressões Lúdicas e Artísticas, com publicação no Diário Oficial da Bahia nesta quinta-feira (decreto nº 19.494).
O Samba de Roda foi reconhecido como patrimônio pelo IPHAN desde 2004; e reconhecido como Obra Prima da Humanidade pela UNESCO desde 2005. Agora é também reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado da Bahia.
“Fazer o reconhecimento deste bem cultural é valorizar, estudar, registrar e divulgar, promovendo, assim, a sua continuidade, reprodução e transmissão às novas gerações, pois essa manifestação traz na sua constituição as marcas identitárias de povos que fizeram parte do processo civilizatório de constituição da nação brasileira, e que ainda hoje rememora, por meio de suas marcas culturais, todo o esplendor de uma cultura marcada por lutas históricas, memorizada e revelada através de seus ritos”, declara Nívea dos Santos, Gerente de Patrimônio Imaterial do IPAC.
De acordo com ela, o Samba de Roda do Recôncavo merece este reconhecimento por ser uma referência cultural, ter uma continuidade histórica consistente, possuir uma singularidade comprovada, apresentar um dinamismo vibrante, além de contribuir para a memória e identidade do povo da Bahia.
O Samba de Roda do Recôncavo – O Samba de Roda do Recôncavo é um misto de expressão musical, coreografia característica, poética abrangente, presente em momentos festivos. É uma das principais manifestações culturais engendrada em solo brasileiro. Incide praticamente em todo Estado da Bahia, sendo que é na região conhecida como Recôncavo, área composta de 33 municípios, localizada no entorno da Baía de Todos os Santos, que iremos encontrar uma maior concentração de grupos de sambadeiras e sambadores e pujança da manifestação cultural, haja vista que essa região recebeu as primeiras levas de africanos escravizados para trabalhar nos engenhos de açúcar e onde, consequentemente, concentram-se maior número de templos religiosos de matriz africana, depositários da matéria prima essencial dessa forma de expressão, cuja celebração saltou dos terreiros de candomblé para ganhar as festas, ruas e praças das cidades baianas.
Composto por um grupo de músicos, sambadeiras e sambadores que se reúnem em uma espécie de roda, onde estão presentes diversos instrumentos como atabaques, a viola, o pandeiro, o chocalho o ganzá, o reco-reco e o agogô, podendo a depender da região, haver introdução de outros instrumentos. Acompanhado por cantos e palmas pelos presentes, onde, geralmente as mulheres é quem dançam, cabendo aos homens a execução dos instrumentos. A dança é conhecida como miudinho e o samba chula e o samba corrido são as variantes que ocorrem no Recôncavo.
Seus primeiros registros, com esse nome e com muitas características que ainda hoje o identificam, datam dos anos 1860. Atualmente, reúne as tradições culturais transmitidas por africanos escravizados e seus descendentes, que incluem o culto aos orixás e caboclos, o jogo da capoeira e a chamada comida de azeite. A herança negro-africana no samba de roda se mesclou de maneira singular a traços culturais trazidos pelos portugueses (principalmente viola e pandeiro) e à própria língua portuguesa nos elementos de suas formas poéticas.