Se as ruas de Salvador fossem um estúdio, fotografias icônicas seriam registradas diariamente, corroborando com a grande frase: baiano não nasce, estreia. É justamente com a intenção de registrar momentos e performances marcantes de quem compõe a cena diária da capital baiana, que a 5ª edição do projeto Fotoperformance Popular está sendo montada diariamente na Rua do Ourives, 87, no Comércio.
O projeto é idealizado pelo fotógrafo e artista visual baiano Alex Oliveira e realizado em parceria criativa com a diretora de arte visual Alice Braz. A iniciativa tem o apoio da Prefeitura de Salvador, por meio do edital Arte Todo Dia – Ano VI da Fundação Gregório de Mattos (FGM), órgão vinculado à Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador (Secult).
Experimentação – Juntos, Alex Oliveira e Alice Braz montam diariamente um estúdio fotográfico no local, como uma forma de catalogar as performatividades populares. As fotografias são produzidas por meio da experimentação e criação a partir de jogos compositivos e performáticos em tempo real. Os modelos são os pedestres e comerciantes locais, que se relacionam com o estúdio tanto como observadores quanto como performers, sendo fotografados e criando cenas com objetos e gestos presentes no cotidiano.
“Esse trabalho surgiu em 2019. Eu comecei a me interessar muito a trabalhar com pessoas que não fossem artistas, mas que fossem o povo na cidade, que tem um modo criativo de compor e de se comunicar. O modo como se organizam os elementos na cidade, tudo isso tem um senso estético muito interessante, e eu queria compor isso em um estúdio, porque o estúdio destaca a pessoa do fundo e dá um destaque maior para o gesto, para a gestualidade”, conta Alex Oliveira.
História e cultura – Ele ressalta que, por meio desse trabalho, ele e Alice Braz conversam com a cidade. “É uma situação muito de histórias de observação da cidade e uma ideia de investigar a performance popular. A rua funciona como um grande atelier aberto”, compara.
Alice destaca também a importância da iniciativa e do apoio da Prefeitura para esta realização. “Eu percebo como é urgente que a gente tenha um arquivo de imagens cotidianas das pessoas que trafegam uma geografia que muitas vezes não é evidenciada. Então, fotoperformance é esse estúdio aberto ao dia a dia, ao cotidiano, em que a gente propõe naturalmente como se estivéssemos vendendo algo numa banca e as pessoas passassem e quisessem interagir com o estúdio. É muito importante também ter apoio financeiro para esse tipo de registro, porque não é só cultural, é também histórico”.
Fotos e postais – O projeto já está no Comércio há um mês e meio, criando uma relação de convivência com as pessoas que trabalham e passam pelo local. Na primeira etapa do estúdio, as ações estavam voltadas apenas para os transeuntes e comerciantes do bairro. Em um segundo momento, artistas e pessoas de outros locais da cidade também passaram a ser convidados para conhecer o estúdio e realizar suas fotoperformances.
Como encerramento, uma barraca será montada no dia 15 de junho, a partir das 10h30, no mesmo endereço em que está sendo montado o estúdio, próximo à Praça Marechal Deodoro. O espaço, chamado “Vale-quanto-pesa”, irá expor fotografias, que foram produzidas ao longo do projeto, em suportes como porta-retratos, postais e calendários. Os porta-retratos com as fotoperformances serão distribuídos gratuitamente aos participantes do projeto e os postais aos demais transeuntes e moradores de Salvador.
Processo criativo – Além disso, um pôster lambe-lambe será colado no local com um registro dos comerciantes da área e haverá um bate-papo aberto sobre o projeto, sobre o processo criativo envolvendo a fotografia, a performance e a intervenção urbana.
Essa é a primeira edição do projeto em Salvador. A iniciativa já teve edições realizadas em Belo Horizonte e Uberlândia (MG), em 2019, e Senhor do Bonfim e Jequié (BA), em 2021.