BAHIA EM REVISTA

Hospital Municipal de Salvador adota prontuário afetivo para humanização do atendimento aos pacientes

Como quer ser chamado? Qual a sua música predileta? O que gosta de fazer? Tem um sonho? No Hospital Municipal de Salvador (HMS), em Boca da Mata, essas e outras perguntas compõem o Prontuário Afetivo, ferramenta criada para humanizar o atendimento, através da aproximação de funcionários, pacientes e seus acompanhantes, tornando o ambiente mais familiar e, consequentemente, gerando melhora dos quadros clínicos.

O preenchimento do documento pode ser realizado por qualquer profissional que esteja atuando junto ao paciente, colhendo as informações diretamente com ele, quando possível, ou através de contato com a família ou acompanhante, presencialmente. E buscar conhecer os hábitos sociais e ter intimidade com as emoções dos pacientes têm feito toda a diferença na recuperação das pessoas hospitalizadas na unidade, administrada pela Prefeitura, através de uma parceria com a Santa Casa de Misericórdia da Bahia, que atende uma média de 12 mil pacientes e realiza 500 cirurgias por mês.

Internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com complicações do diabetes, Rogério dos Santos, 31 anos, ou Júnior, como prefere ser chamado, já está com alta prevista para os próximos dias. Ao lado da maca, o “prontuário afetivo” de Júnior traz detalhes sobre os hobbies que incluem pescaria, leitura e escrita. “Fui tratado com muito carinho. Com certeza, esse tratamento ajuda na melhora do paciente. As enfermeiras conversando comigo sobre livros, pareciam amigas de longa data. Achei maravilhoso!”, afirmou.

Algumas das informações do documento foram preenchidas com ajuda da esposa, Eliene Bonfim, 52 anos. “Me perguntaram o que ele gosta de fazer, logo lembrei da pesca e da escrita. Todo mundo que vinha falar do quadro de saúde dele, puxava um assunto e ele logo interagia. Adorei o tratamento. A gente está acostumado com aquele monte de perguntas sobre sintomas, sobre doença. Agora, além disso, nos perguntam sobre como nos sentimos, o que gostamos. Coisa de primeiro mundo”, comentou.

Anamnese emocional – A anamnese, vem da expressão grega que significa “ana”, trazer de novo e “mnesis”, memória. São aquelas perguntas feitas pelos profissionais de saúde ao admitir o internamento de um paciente em uma unidade, hospital ou em uma simples consulta de rotina. Os questionamentos básicos são feitos com o intuito de entender, com a maior precisão possível, a história da doença atual que levou a pessoa a buscar atendimento.

A anamnese é o pontapé inicial para confecção do prontuário convencional do paciente, documento normalmente digitalizado, em preto e branco e descrito com linguagem técnica. Já o prontuário afetivo colhe informações sobre as emoções, preferências e gostos do paciente, fazendo uma análise subjetiva com foco em cuidados na saúde emocional. Escrito à mão e com ilustrações, o documento fica afixado na parede ao lado do documento convencional.

Atualmente implantado na UTI e unidades de atendimento adulto, o prontuário será estendido à pediatria do HMS. A psicóloga do HMS, Ludimilla Souza, explica que a intenção do prontuário afetivo é tornar a estadia do paciente no hospital o mais confortável possível. “A ideia é que nesse momento com a aproximação da equipe a gente possa trazer toda a condição de humanização, tornando o atendimento melhor, mais qualificado e, principalmente, antecipando a alta”, ressalta.

Ela diz que a prática começou a ser implantada no HMS no começo da pandemia de Covid 19. “Começamos naquela época e temos aprimorado mais e mais. Entendemos que acolher esses pacientes é fazer com que eles resgatem a sua subjetividade. Comumente a hospitalização e o adoecimento nos convoca a tristeza, a despersonalização. O paciente não é leito X ou Y. Não é o paciente com essa ou aquela doença. O prontuário busca esse resgate, trazendo nome carinhoso, apelido, gostos, preferências e a história. São essas doses de amor e afeto que fazem muita diferença”, explica.

Atendimento humanizado – O atendimento humanizado sempre foi uma das diretrizes da unidade desde a sua inauguração, há seis anos. O diretor geral do HMS, Gustavo Mettig, explica que o prontuário afetivo é mais uma dessas ações adotadas no dia a dia da instituição. “São perguntas simples, mas que fazem toda a diferença na abordagem. Em posse das respostas, nossa equipe consegue se aproximar dos pacientes, possibilitando um atendimento mais humano e, consequentemente, fazendo com que a estadia no hospital seja breve e menos sofrida possível”, pontuou.

Além do prontuário afetivo, o HMS também adota uma outra prática que recebeu o nome de “Os Três Desejos”. Nessa conduta, os profissionais de saúde perguntam aos pacientes sobre vontades, como por exemplo ver o pôr do sol ou ter contato com o pet que ficou em casa durante a internação, e tentam possibilitar a realização do desejo. “Quanto mais humano, mais próximo o atendimento, mais o paciente melhora e temos que chamamos de alta precoce, que é uma alta mais breve”, pontua o diretor.

Referência – O HMS tem mais de 1,2 mil colaboradores em sua estrutura. A unidade é uma das duas únicas unidades públicas do estado que obteve a certificação nacional de qualidade através da eficiência administrativa, que se consolida como referência no tratamento de doenças de alta complexidade e na produção e difusão de conhecimento nos campos do ensino, pesquisa, assistência, inovação e humanização no atendimento. Além dos 12 mil atendimentos e 500 cirurgias mensais, o HMS realiza, por mês, 4,7 mil consultas ambulatoriais e 10 mil exames de imagem.

 

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