Carnaval é o momento de garantir uma renda extra nos diferentes segmentos, entre eles o de cordeiro. Os trabalhadores da área são indispensáveis para que os desfiles de blocos e trios independentes ocorram na avenida, protegendo os foliões de eventuais acidentes durante o percurso.
Muitos que atuam na função aproveitam o período para custear despesas de início de ano e até mesmo investir em outros meios de renda após a folia, a partir do valor pago pelos grupos e agremiações. É o caso de Antônio de Oliveira Júnior, de 37 anos. Ele puxou a corda do bloco Exclusiva Infantil/Baby Moto, no circuito Osmar (Campo Grande) na manhã deste domingo (19).
“Esse é o quinto trio que eu puxo. A dica é saber levar a corda sem dar empurrões para que todos curtam na paz. Geralmente eu venho só com a roupa e o sapato, mas têm cordeiros que vêm com mochila. O dinheiro que eu ganho aqui dá para comprar um sapato e um caderno para o meu filho ir para a escola e também uma guia para o meu trabalho de vendedor”, revelou o cordeiro.
Para o vocalista da banda Entre no Clima, Luiz Garcia, mais conhecido como Luizinho, a atuação dos cordeiros é um trabalho essencial. “É quem proporcionam segurança ao folião do bloco, guia e orienta as pessoas e até mesmo protege o trio para evitar os acidentes. Inclusive, o cordeiro que tem filho pequeno pode trazer a criança com algum responsável para brincar aqui dentro do bloco”, relata.
Quem trabalha como cordeiro, além de receber o pagamento cuja diária mínima deve ser de R$ 60, conforme recente definição do Ministério Público do Trabalho da Bahia (MPT-BA), ganha um kit com luva, protetor auricular, lanche, camisa, colete e água mineral.
Décio de Sena, 51, que já atua como cordeiro há mais de 20 anos, confessa que canta e até dança para se distrair durante o trabalho. Ele puxou o Algodão Doce, seu quarto bloco na folia, e vai voltar para atuar no desfile do Afoxé Filhos de Gandhy.
Avanços – Segundo Matias Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Cordeiros da Bahia (Sindcordas), houve um aumento de 13% no valor pago para puxar o bloco em relação aos carnavais anteriores. Ele ressalta que, em 2016, foi celebrado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público do Trabalho, estabelecendo direitos para os cordeiros.
Além de ter direito aos Equipamentos de Proteção Individuais (EPI’s), os trabalhadores autônomos têm direito a um seguro coletivo para casos de acidente e morte. “Neste Carnaval, os blocos garantiram que não diminuiriam os cordeiros e ao longo da festa. Temos uma média de 10 a 15 mil atuando. Seguimos sempre na luta por condições mais dignas para a categoria”, afirma Matias.