O terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais tradicionais de Salvador, situado em São Gonçalo do Retiro, receberá novas intervenções, inclusive artísticas, a serem realizadas pela Prefeitura. O anúncio foi realizado pela vice-prefeita e secretária municipal de Cultura e Turismo (Secult), Ana Paula Matos, durante encontro com a atual líder do templo religioso, Mãe Ana de Xangô.
Na ocasião, também foram avançados nos trâmites visando a restauração do museu Ilé Ohun Lailai e a creche, que será implantada no espaço. As intervenções visam potencializar o espaço religioso, que atualmente enfrenta problemas estruturais e está fechado para visitação ao público, inserindo-o na rota do afroturismo de Salvador.
O simbolismo do movimento realizado na data em que se comemora o aniversário de Mãe Stella foi celebrado por Ana Paula Matos. “Neste dia tão simbólico, em que celebramos o centenário de Mãe Stella, dialogamos com Mãe Ana, sua sucessora, sobre as intervenções necessárias para preservar e fortalecer esse patrimônio da nossa cultura. Viemos prestar contas do status do que tinha sido acordado no nosso primeiro encontro e vamos viabilizar novas intervenções para o centenário de Mãe Stella. Estamos trabalhando para que o legado de Mãe Stella permaneça vivo em cada folha, cada canto, em cada mulher negra que lidera com coragem e sabedoria”, destacou.
A matriarca do templo religioso demonstrou otimismo em relação ao trabalho da Prefeitura no terreiro. “Tenho a certeza, dentro do meu coração, que isso que estamos plantando aqui vai se tornar realidade. Vejo que a requalificação será um marco para a história da cidade para dar continuidade à ancestralidade das iyás que passaram por aqui”, afirmou Mãe Ana de Xangô.
Além da vice-prefeita, a comitiva municipal foi formada pela secretária de Políticas Para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), Fernanda Lordêlo; da diretora de Cultura da Secult, Maylla Pita; e da gestora do Gabinete Salvador Capital Afro, Ivete Sacramento.
Conceito – O museu Ilé Ohun Lailai, situado no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro, passará por obras de requalificação e terá todo o acervo restaurado pela Prefeitura. Conforme ficou definido durante a visita anterior com as presenças do prefeito Bruno Reis, da vice Ana Paula, do ex-secretário Pedro Tourinho e demais gestores municipais ao terreiro em agosto de 2024, a iniciativa será conduzida pela Secult Salvador em parceria com a Secretaria Municipal da Educação (Smed), pasta responsável por manter em operação a Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos – estrutura referência no ensino da cultura matriz africana na cidade, que já funciona dentro do terreiro.
O museu Ilé Ohun Lailai surgiu em 1982, mais de sete décadas depois da fundação do Ilê Axé Opô Afonjá, em 1910, por Eugênia Anna dos Santos (Mãe Aninha). O local resguarda exemplares de plantas sagradas catalogadas, além de pertences como cadeiras e vestimentas da fundadora e das quatro sacerdotisas que comandaram o templo posteriormente: Mãe Bada, Mãe Senhora, Mãe Ondina e Mãe Stella de Oxóssi.
A criação do projeto expográfico e curadoria de conteúdos do lugar foram desenvolvidos com o acompanhamento de Mãe Ana de Xangô. O conceito adotado é tornar o ambiente interno do museu com aspecto similar à gameleira, árvore fortemente presente nos templos religiosos afro-brasileiros, criando um mergulho poético no universo simbólico e histórico do Opô Afonjá.
Legado – Maria Stella de Azevedo Santos, a Mãe Stella de Oxóssi, foi uma personalidade de grande destaque da cultura baiana e respeitada líder religiosa. Nascida em 2 de maio de 1925, em Salvador, foi a quinta ialorixá do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá. No local, ela foi iniciada aos 14 anos, assumindo em 1976, aos 51 anos, a posição de matriarca do templo.
Primeira ialorixá no país a escrever livros, como “Meu tempo é Agora”, e artigos sobre o candomblé, Mãe Stella também lutou pelo resgate da cultura afrobrasileira e contra o racismo. Em 2013, foi eleita por unanimidade para ocupar a cadeira 33 da Academia de Letras da Bahia, cujo patrono é o poeta Castro Alves. A sacerdotisa faleceu na cidade de Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo baiano, em 27 de dezembro de 2018.