A capital baiana abriga um complexo composto por três edificações coloniais na Ladeira da Misericórdia, no Centro Histórico, projetado nos anos 1980 pela renomada arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992): o Espaço Coati. O local, que chegou a receber ativações culturais até 2019, nunca funcionou de forma plena, mas uma iniciativa desenvolvida pela Prefeitura em parceria com a Associação Cultural Pivô vai promover a reestruturação e reativação do equipamento.
O acordo foi anunciado pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult). A primeira medida para a reabertura do Coati já está em andamento e envolve a realização de obras de manutenção estrutural, que abrangem revisão da instalação elétrica, melhorias no paisagismo, troca de esquadrias, entre outros serviços. A estimativa é que até o segundo semestre de 2025 o espaço esteja reaberto ao público, recebendo programação diversificada e gratuita, residências artísticas, exposições e atividades educativas.
“O Coati e todo projeto de Lina para a Ladeira da Misericórdia representam na verdade um microcosmo de uma estratégia de desenvolvimento sustentável e de reocupação do Centro Histórico. Um plano baseado em cultura e habitação, elaborado há 30 anos, que é também o que acreditamos e estamos implementando em toda essa região”, explicou o titular da Secult, Pedro Tourinho.
O gestor reforçou que o complexo cultural nunca funcionou como foi idealizado por Lina. Nos anos 90, o local chegou a funcionar o restaurante Zanzibar, hoje no Santo Antônio do Carmo, além de receber algumas atividades pontuais até 2019. “O Coati nunca abriu com a com o propósito que foi desenhado. Mas isso vai acontecer agora”, destacou Tourinho. Através desta iniciativa, acrescentou, Salvador reafirma o compromisso com a preservação do patrimônio e com o fortalecimento de sua identidade cultural.
Reativação – A parceria com a Associação Cultural Pivô visa justamente recuperar o complexo, devolvendo o espaço para a população da cidade. A entidade sem fins lucrativos possui ampla experiência no cenário artístico brasileiro, desenvolvendo mais de 150 projetos em 12 anos de atuação. Um dos principais cases de sucesso da instituição foi o reposicionamento do Edifício Copan, no centro de São Paulo.
Fernanda Brenner, diretora artística da Pivô, destacou o potencial do Coati e os planos para reativação da estrutura. “Temos um precedente em São Paulo, trabalhando na retomada de um imóvel histórico a partir da presença de projetos culturais, não apenas de artes visuais, mas de literatura e arquitetura. Essa força que a cultura traz é fundamental para ecoar em imóveis especiais como o Coati, que está entre as Cidades Alta e Baixa de Salvador, com uma vista privilegiada para a Baía de Todos-os-Santos. Nosso projeto para cá é, sobretudo, criar um ponto de encontro entre a população, artistas do Brasil e de fora”, destacou.
A parceria também envolve o Instituto Bardi – criado para preservar o legado de Lina Bo Bardi. “É uma iniciativa que nos dá muita alegria e responsabilidade. Temos o papel de proteger o legado de Lina e essa parceria para preservar a memória dela é muito importante, pois, teremos a honra de acompanhar a continuidade da obra que ela pensou para Salvador”, celebrou a embaixadora da organização, Lissa Carmona.
Conceito do Coati – Nos anos 1980, Lina Bo Bardi foi convidada a integrar o Programa Especial de Recuperação de Sítios Históricos (PERSH) em Salvador, onde desenvolveu um projeto visionário para a Ladeira da Misericórdia. O complexo, localizado no coração do Centro Histórico de Salvador, inclui três edificações coloniais, o restaurante Coati e o bar dos Três Arcos.
Com o apoio dos arquitetos João Filgueiras Lima (Lelé), Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, Lina idealizou um espaço destinado à cultura, educação, comércio e lazer, integrando o patrimônio histórico com a vida cotidiana da população local.