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Espaço no Jardim Botânico possui plantas utilizadas em cultos afro-brasileiros

Diversas culturas ao redor do planeta têm o uso e a manipulação das ervas como parte da prática religiosa, a exemplo de ameríndios, chineses e africanos. Salvador mantém um espaço específico no Jardim Botânico de Salvador, no bairro de São Marcos. O equipamento abriga plantas tradicionalmente utilizadas para fins medicinais, gastronômicos ou rituais, dentre as mais de 61 mil espécies preservadas no local, que possui 160 mil metros quadrados de área, divididos entre plantas vivas e preservadas no herbário Radam Brasil, que integra o complexo.

Para o coordenador de Projetos e Políticas da Reparação da Secretaria Municipal da Reparação (Semur), Alisson Sodré, a iniciativa de criar um espaço etnobotânico para tratar de plantas sagradas vai muito além da preservação – é também uma forma de garantir a preservação do sagrado e a valorização das religiões de matriz africana, que têm em sua base o cuidado e a ligação com a natureza.

“Antes de termos acesso a tudo que hoje a moderna medicina nos proporciona, diante dos avanços científicos e tecnológicos em relação aos cuidados com o corpo – em especial os advindos da África, na condição de escravizados – tinham como únicos elementos para cuidar do espírito, das enfermidades e também da culinária as plantas, para nós, tidas como sagradas. Portanto, é um ganho muito valoroso para todos”, aplicou.

Usos e benefícios – Jane Palma, gerente de Biblioteca e Promoção do Livro e Leitura da Fundação Gregório de Mattos (FGM) e Iyarogba de Oxóssi, do Terreiro do Gantois, lembra que todas as religiões de matriz africana trabalham com água e folhas, banhos, chás, infusões e vaporizações.

“São folhas para cura de doenças físicas e espirituais. Para banhos crus, folhas verdes, que serão misturadas (maceradas) em vasilhas de barro e coadas. Como exemplos, temos a arruda, utilizada para trazer proteção, e a mamona, que ajuda a curar feridas. A bertalha, por sua vez, é um ótimo remédio contra febre. Babosa cura infecções. Taioba é para cicatrização “, explica.

Ainda segundo Jane Palma, outras folhas bastante destacadas para o uso ritual, medicinal e gastronômico são o bambu, que afasta espíritos mortos; louro, que traz prosperidade; e palha de alho, usada contra inveja e olho gordo. Já a folha de fumo age contra a perseguição. “A natureza é a base de várias civilizações que curam utilizando muitos chás e ervas”, finaliza.

Péricles Ávila, analista de gestão pública e cambono do terreiro de D’Oya, em Gameleira, explica que toda a natureza atua junto à cultura religiosa de um lugar. “São elementos construtivos para uma vida saudável. Louvamos os senhores da guerra, das matas silenciosas, dos odes e até dos reinos minerais e das águas. Nosso lema é: se não há folha, não há orixá. Todas as plantas têm o seu valor. Cultivar folhas frias, quentes e mornas faz parte de nossa essência. Destaco uma folha importante dentre tantas outras: o peregum, que tem um fundamento especial desde um ebó ao nascimento de um noviço”, ensina.

Estrutura e funcionamento – Com uma área total construída de 2,2 mil m², o Jardim Botânico de Salvador funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Além do espaço das plantas sagradas, a estrutura também possui um prédio principal, com quatro pavimentos. No subsolo, são encontrados vestiários, copa, depósito, estufa, sala de ar condicionado e sanitários. No andar térreo está o auditório com capacidade para 47 pessoas, conectado com o foyer.

Há ainda o espaço semicoberto para atividades diversas com arquibancada. O ambiente digital com expositivos voltados à educação ambiental, além de hall de exposições e sanitários, também fazem parte deste andar.

O primeiro pavimento tem área vegetal descoberta, de onde é possível avistar a copa das árvores, ou seja, a parte aérea da vegetação local. Também estão no primeiro andar o setor de programas e pesquisas, laboratórios, setor de coleções vivas, setor de acervo científico, salas administrativas, sala de curadoria, herbário, espaço de reuniões, copa/café e sanitários.

Por fim, a cobertura vegetal possui área calçada, que permite o acesso e vista para a área externa. O projeto de requalificação do Jardim Botânico foi elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) e o espaço é administrado pela Secretaria Municipal de Sustentabilidade e Resiliência (Secis).

 

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