O câncer de pênis apresenta prevalência considerável no Brasil, em especial nas regiões Norte e Nordeste, onde as condições socioeconômicas e a baixa escolaridade da população favorecem a má higiene íntima dos homens, principal fator de risco da doença. Só em 2021, foram registrados mais de 1.700 casos desse tipo de tumor no país, sendo 139 na Bahia.
Em 14 anos, houve um aumento de 1.604% de amputações do órgão. Apesar disso, o país ainda não dispõe de um programa preventivo ou políticas públicas específicas que estimulem a prevenção e o diagnóstico precoce. O resultado dessa lacuna é a realização de cerca de mil amputações penianas por ano.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU-BA) e atual coordenador do serviço de urologia do Hospital Aristides Maltez, Augusto Modesto, a fimose é um dos fatores de predisposição à gênese da doença, pois dificulta a higiene adequada e a detecção precoce de lesões malignas e pré-malignas. “Por isso, a proposta de realizar um mutirão de postectomias para beneficiar homens de baixa renda e escolaridade deve ser considerada com seriedade pelos gestores de saúde do Estado e municípios baianos. Vale ressaltar que de 2020 a 2021, houve uma diminuição no diagnóstico do câncer de pênis na ordem de 20% devido à pandemia de Covid-19. “Precisamos ter consciência de que mesmo com as limitações impostas pelo atual momento da pandemia, o atendimento, diagnóstico e tratamento de outras doenças não podem parar”, declarou o uro-oncologista.
A postectomia é uma operação simples e rápida. Quando a circuncisão é realizada na infância, a redução do risco de desenvolver o câncer de pênis é comprovada. Já na fase vida adulta, o procedimento não previne a doença, mas facilita o diagnóstico precoce, reduzindo a morbidade dos tratamentos cirúrgicos, o impacto na autoestima e a perda total do órgão. Bons hábitos de higiene reduzem o risco tanto em homens que realizaram quanto nos que não realizaram a cirurgia. A limpeza diária do órgão com água e sabão, principalmente após as relações sexuais e a masturbação, é a melhor forma de prevenção.
Segundo dados obtidos com exclusividade pela SBU no Sistema de Informações Hospitalares (SIH/Datasus) do Ministério da Saúde, houve uma queda no número de registros entre 2020 (quando foram registrados 2.095 casos) e 2021 (1.791 casos). Estima-se que essa diminuição se deve à pandemia, que impactou sobremaneira a procura por tratamento médico. A região com maior número de casos nos últimos quatro anos foi o Sudeste (3.162 casos), seguido por Nordeste (2.574), Sul (1.186), Centro-Oeste (658) e Norte (645). Nesse mesmo período, a prevalência (número de casos por cada 100 mil habitantes) foi a seguinte: Nordeste (9,93); Centro-Oeste (9,42); Sul (8,82); Sudeste (8,09); Norte (8,05). Os estados com maior registro de tumor de pênis são: São Paulo (1.484), Minas Gerais (1.059), Bahia (609) e Paraná (565).