BAHIA EM REVISTA

Presentes inusitados marcaram a fé em Iemanjá

Deixar presentes na Colônia de Pescadores, no Rio Vermelho, para que eles sejam postos em balaios e depositados no mar é um dos ritos tradicionais da Festa de Iemanjá, realizada todo dia 2 de fevereiro. Embora façam parte da lista de oferendas à Rainha do Mar, itens como flores, frutas, alfazema, espelhos, batom, pentes, não é raro ver muitos devotos materializando a fé na orixá com a entrega de objetos inusitados.

Quem já viu de tudo e conta essa experiência é Marcos Santos Souza, popularmente conhecido como Branco, que há 10 anos está à frente da presidência da colônia. “Numa ocasião, uma mulher ofereceu uma bolsa de colostomia junto com outros equipamentos após alcançar a cura de um problema de saúde. Foi uma promessa feita para Iemanjá”, se recorda.

Branco destaca que também é comum darem de oferta itens valiosos, como ouro, joias e alianças. Mas a prática de colocar bilhete com cabelo cortado e até pratos de comida também chamam atenção. “Tudo o que se pode imaginar. Já vi muitas moças vindo ao Rio Vermelho no dia 2 de fevereiro e entregando calcinhas para pedir à Iemanjá um príncipe encantando. Não há religião quando o aspecto amoroso está envolvido”, diz aos risos.

Apesar de haver muitos exemplos e fatos que despertam curiosidades, Branco faz apelo aos simpatizantes e fiéis quanto à preservação marinha do local. Ano passado, conta, a ialorixá Mãe Stella de Oxóssi conversou com ele para que conclamasse aos devotos de Iemanjá e às pessoas a não colocarem nada no mar que prejudicasse o oceano. A recomendação, desde então, é seguir à risca ações que promovam a conscientização sobre o cuidado com o meio ambiente.

“Em vez de colocar oferendas que não decompõem, substituir por flores. Perfumes devem ser despejados sem os frascos e sabonetes sem a embalagem. Nada de itens de plástico, vidro ou isopor”, orienta Branco, afirmando que os pescadores vêm realizando uma triagem no caramanchão para separar qualquer item que possa poluir o mar. “Mas não dá para fazer isso na parte de baixo, na praia. Por isso estamos interagindo com os pescadores e com a população com essa política de preservação”, acrescenta.

Por conta da Festa de Iemanjá cair este ano em um sábado, a Colônia de Pescadores espera fluxo maior de pessoas em relação aos anos anteriores – cerca de 1 milhão de baianos e turistas entre hoje (1º), quando o caramanchão será aberto para receber os presentes, até o dia do evento religioso.

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